Roteiro - cap. 10 - Religião
Emmanuel/Chico Xavier
A ciência multiplica as possibilidades dos sentidos e a
filosofia aumenta os recursos do raciocínio, mas a religião
é a força que alarga os potenciais do sentimento.
Por isso mesmo, no coração mora o centro da vida. Dele
partem as correntes imperceptíveis do desejo que se
substanciam em pensamento no dínamo cerebral, para
depois se materializarem nas palavras, nas resoluções, nos
atos e nas obras de cada dia.
Na luta vulgar, há quem menospreze a atividade religiosa,
supondo-a mero artifício do sacerdócio ou da política,
entretanto, é na predicação da fé santificante que
encontraremos as regras de conduta e perfeição de que
necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na
direção das conquistas
divinas.
A humanidade, sintetizando o fruto das civilizações, é
construção religiosa.
Dos nossos antepassados invertebrados e vertebrados
caminhamos nos milênios, de reencarnação em reencarnação,
adquirindo inteligência, por intermédio da experimentação
incessante, mas não é somente a razão o fruto de nosso
aprendizado, no decurso dos séculos, mas também o discerni-
mento ou a luz espiritual, com que pouco a pouco aperfeiçoamos
a mente.
A religião é a força que está edificando a Humanidade. É a
fábrica invisível do caráter e do sentimento.
Milhões de criaturas encarnadas guardam, ainda, avançados
patrimônios de animalidade. Valem-se da forma humana,
como quem aproveita de uma casa nobre para a incorporação
de valores educativos. Possuem coração para registrar o bem,
contudo, abrigam impulsos de crueldade. O instinto da pantera,
a peçonha da serpente, a voracidade do lobo, ainda imperam
no psiquismo de inumeráveis inteligências.
Só a religião consegue apagar as mais recônditas arestas do
ser.
Determinando nos centros profundos de elaboração do
pensamento, altera, gradativamente, as características da
alma, elevando-lhe o padrão vibratório, através da melhoria
crescente de suas relações com o mundo e com os
semelhantes.
Nascida no berço rústico do temor, a fé iniciou o seu
apostolado, ensinando às tribos primárias que o Divino
Poder guarda as rédeas da suprema justiça, infundindo
respeito à vida e aprimorando o intercâmbio das almas.
Dela procedem os mananciais da fraternidade realmente
sentida, e, embora as formas inferiores da religião, na
antiguidade, muita vez incentivando a perseguição e a
morte, em sacrifícios e flagelações deploráveis, e apesar
das lutas de separação e incompreensão que dividem os
templos nos dias da atualidade, arregimentando-os para
o dissídio em variadas fronteiras dogmáticas, ainda é a
religião a escola soberana de formação moral do povo,
dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem da
sublimação.
A ciência construirá para o homem o clima do conforto
e enriquecê-lo-á com os brasões da cultura superior; a
filosofia auxiliá-lo-á com valiosas interpretações dos
fenômenos em que a Eterna Sabedoria se manifesta,
mas somente a fé, com os seus estatutos de perfeição
íntima, consegue preparar nosso espírito imperecível
para a ascensão universal
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